domingo, 21 de julho de 2024

O que café e branding tem em comum?

 Primeiro, vamos entender o que diferencia esse barrinho adoçado desse chá-fé: o “extra-forte” não significa sabor intenso, mas que pra mascarar impurezas e baixa qualidade dos grãos, passa por torra excessiva e o amargor pede muito açucar pra se tornar bebível.

Já o gourmet tem essa conotação de esnobe, mas saber que só tem café mesmo e com diferentes graus de torra abrem uma possibilidade enorme de extrações e aromas - e não amarga!

Eu vejo pessoas e marcas exatamente assim: aqui, tem aquele que nunca buscou entender seus fundamentos, que se contamina com tanta interferência externa, e pra entrar num padrão de mercado, acaba se queimando, e vai precisar de muitos artifícios pra se tornar agradável. De cá, uma identidade bem definida, que se adapta à demanda e cria possibilidades memoráveis.

Agora, cê sabe qual o preço deles na gôndola do supermercado? Acredite, não é tão diferente assim. A maior diferença: o primeiro vai sempre te dar azia…


Então, vai um BOM café aí?

pão é pão

 pão será sempre pão. dependendo do contexto histórico, uma receita diferente. conforme o país, um nome específico. dependendo da família, um jeito de ser consumido. mas pão será sempre pão.

e isso não é sobre pão.

responder à pergunta "qual é sua religião" me trazia uma série de questionamentos internos. e antes que atirem a primeira pedra ou comecem as pregações, isso não é uma discussão sobre credos.

eu nasci num contexto bem sincrético. batizada católica e sempre às voltas com grupos de oração, meu lugar favorito no mundo era a biblioteca cheia de símbolos e livros místicos da minha madrinha, e amava passar as férias ouvindo meu avô que era médium espírita. filmes de bruxaria e ocultismo eram documentários com licença poética e não mero entretenimento. minhas edições favoritas da Superinteresante eram as de civilizações antigas e seus cultos sobrenaturais. traduzi um livro de umbanda. na minha mesa tem cristais e um buda, e na entrada do escritório ficam o anjinho da guarda e um filtro dos sonhos. já recitei o terço mentalizando "ohm" ao invés de ave-maria. "Alice dentro do espelho" me mostrou a face de Deus no Tempo. eu plantei a lua como um pedido à Gaia para engravidar (e funcionou de primeira). minha feminismo luta por equidade por causa de uma PhD em comida. minhas melhores clientes são evangélicas. já convenci ateus de que o Algoritmo do Universo é que rege cada milagre das nossas vidas. 

mas minha espiritualidade nunca foi dúbia. desde o útero (ou talvez muito antes, dependendo de como você acredita), minha mãe me apresentou o Movimento Focolare. cresci vendo como Chiara Lubich traduziu sua fé dentro da sua expertise acadêmica e construiu discursos, estudos e palestras - além de amizades com grandes líderes das mais diversas denominações religiosas - que traziam o tema Unidade num diálogo construtivo e convergente. na minha cabeça, era mera questão de idioma que nos afastava por causa de interpretações proféticas. literalmente, era apenas o idioma que causava ruído. era absolutamente normal ouvir um africano explicar sobre como professava sua fé e vivia o divino, na mesma mesa que um inglês luterano ou um japonês xantoísta. as diferenças de crença eram meras diferenças de idioma, que tinham sua própria expressão e linguagem, representações e entendimentos. mas todo mundo falava da mesmíssima coisa: somos um com o todo.

daí pra eu me apaixonar por todo tema que envolva linguagens e como usá-la de forma a arrebatar seu público - de seitas religiosas a marcas capitalistas - foi natural. Os vocábulos e simbolismos podem variar - e é isso que vai determinar quem vai te seguir ou te repelir. meu trabalho como estrategista de comunicação é exatamente encontrar qual é o seu brilho, como o sagrado se manifesta em você e traduzir isso pra sua audiência.

então o que era sobre pão, agora você entendeu que não é sobre religião. mas sobra comunicação - que é, etimologicamente, a ação de transformar juntos.