Comecei a trabalhar com meus pais antes mesmo de entrar no colegial. Professores de educação física, envolvidos com sindicatos e organização de olimpíadas escolares, foram melhor laboratório de psicologia, RH, desenvolvimento e treinamento que muito workshop especializado, simplesmente porque era vivenciado plenamente.
Lembro bem de que tudo que era feito sob a supervisão de um deles - seja a empregada doméstica nas suas tarefas, ou um dos filhos com as lições da escola, os atletas treinando pra competição ou os colegas que dirigiam equipes ou apitavam os jogos - tudo, absolutamente tudo, tinha um retorno imediato. "Muito bem", "Legal!", "Olha, preste atenção!", "Hum, que tal fazer desse jeito?", "Vix, você pode fazer melhor, hein!"
É claro que quando a gente errava levava bronca de corar o rosto e marejar os olhos. Mas a gente sabia exatamente como estava se saindo na menor das tarefas. Naturalmente, com o tempo, não havia necessidade de broncas, e algumas coisas já nem precisavam de acompanhamento, porque sabíamos como agir, conhecíamos as expectativas e as regras. E, quando a situação mudava, o ajuste era mais fácil, porque tínhamos a liberdade de pedir orientação sem o receio do "pô, você fez tudo errado!" depois do leite derramado.
Desde que comecei a viver por minha conta, tenho percebido o quanto falta esse feedback constante, nas mais diversas situações! E não fiquei presa só na perspectiva de filha. Fui funcionária dos meus pais e via esse relacionamento idêntico no mundo profisisonal. Na faculdade, nos estágios, empregos, morando fora, a percepção é a mesma: colegas de trabalho que tiveram algum chefe que dava esse feedback tinham um desempenho melhor, eram mais pro-ativos, se dedicavam mais, e por menor que fosse o salário, havia a contrapartida emocional de realização, de satisfação e sucesso.
Logo que formei, trabalhava numa startup que era o sonho de todo jovem: dinâmica, participativa, em construção, com alto potencial de mercado. Eu só saí de lá porque financeiramente eu estava estagnada, não conseguiria fazer uma especialização pra subir de cargo. Chorei horrores antes de finalmente pedir demissão e ir trabalhar numa empresa maior e que me pagava mais. E apesar do pagamento ser bem melhor, os 2 ou 3 meses que eu fiquei lá detonaram toda a auto-confiança que eu tinha no meu próprio trabalho e capacidade de ser útil.
Simples: na primeira, todo mundo sabia o que o outro estava fazendo, sabia seu papel no processo completo, as pessoas se interessavam no seu jeito de fazer e na forma como se via as coisas. O dono tinha uma sala de vidro com a porta aberta, e ia na sua mesa pra ver seu trabalho e saber como estava indo. Se dava esporro era em todo mundo junto e já emendava com a solução retomando o projeto inicial com as adaptações necessárias. E quando dava certo, fazia questão de comemorar, mas quando não dava, tinha pressa em traçar alternativas depois de um curto rosnado de frustração não direcionado a ninguém. Eu trabalhava pra burro, fazia muita hora extra, ganhava só o suficiente, mas eu tinha certeza de que eu tinha minha relevância. Na outra, o chefe parecia sequer notar nossa presença (dentro da mesma sala num departamento subalterno), e nas perguntas mais básicas sobre políticas, procedimentos e diretrizes, indicava a página do manual para que verificarmos. É lógico que dava m*rda de vez em quando, mas um erro de contagem nos atendimentos feitos parecia que toda a estratégia corporativa estava em xeque! E fazia questão de contextualizar que o nosso erro sujaria a reputação dele dentro da empresa (oi? e a gente?!)
Foi aí que me dei conta do poder do "obrigado!". Não da pieguice da gratidão bajuladora. Mas do reconhecimento puro. Sim, tem coisa que não passa da nossa obrigação, mas quando sentimos que a mais banal das atividades é importante - ou no mínimo notada - certamente seu ego, buscando repetir a sensação, vai te motivar a fazer sempre bem feito. Mas ao contrário, se existe a omissão do reconhecimento e as manifestações são apenas na hora do erro, próprio medo de falhar induz ao fracasso. O ser humano é carente de afeto (Maslow que o diga!), precisa do reconhecimento para se sentir pleno.
E começa por nós, e vai para todas as esferas: Chegou? Cumprimente (com um sorriso, de preferência!) O jantar ficou gostoso? Delicie-se! Gostou da roupa? Elogie! O livro que te recomendaram é legal? Agradeça! Mas se te ofenderam, exprima isso sem agressividade e releve. Esqueceram de alguma coisa importante? Pensem em como contornar ao invés de explodir em frustração. Saiu tudo errado? Respire fundo e, se não temo que fazer, então não faça (leia-se fique quieto ao invés de desmoralizar)
Simpatia e gratidão fazem milagres. Vai por mim!
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Publicado oricinalmente no Blog Psicologando, da amada JuBaron.
A Laryssa é uma inquieta convicta. Já trabalhou como vendedora, agente de turismo, secretária, marketing, eventos, treinamentos e cenógrafa. Mas gosta de resumir sua trajetória como de intensa curiosidade com a alma humana e seus processos de desconstrução, evolução e reencontro. Principalmente onde passamos (pelo menos) 1/3 do nosso dia e sustenta o resto do tempo: o trabalho!
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