Lendo um dos blogs que leio fielmente sempre, fiquei encasquetada com o "sutil" comentário sobre a baixa auto estima que alguns insistem do manter como seu estandarte mais vigoroso! Parece uma incoerência - e de fato é - que alguém enalteça e se apegue tanto a sua inferioridade.
É claro que eu também tenho minhas lamentações, me queixo da vida, desanimo. Mas me rebaixar pra que tenham piedade de mim é ultrapassar o limite da auto indulgência. Se for pra expor um problema, que seja pra contextualizar o motivo que você pede ajuda, não pra transferir a responsabilidade da sua causa e solução.
Anos atrás uma senhora puxou assunto no ônibus depois de um pedinte mal trapilho passar com a latinha de moedas suplicando um trocado: piedade não vale nada. (e ao perceber meu olhar de "oi?" ela continua) venda alguma coisa, que seja uma caneta bic, um talento pra poesia, no mínimo um sorriso, algo que acrescente ao mundo, mas nunca venda o sentimento de piedade.
No trabalho já tive que conviver com pessoas que passavam o dia reclamando, com cara de esgotamento, descabeladas e corcundas, arrastando os pés, mas era dar 6 horas já estava toda serelepe pra ir pra balada. Eu entendo que nem sempre a gente acorda com a melhor das inspirações, que nossa rotina diária não seja a mais prazerosa e tranquila, mas comece a observar como duas pessoas numa condição social semelhante, da mesma empresa, com cargos idênticos tem uma alegria de viver diferentes porque não lamentam e fazem do que tem o melhor possível. Um cobrador de ônibus que insiste em dar bom dia pros passageiros impede que o mau humor matinal seja maciço dentro do ônibus, enquanto no carro ao lado um outro cobrador só faz o dia mais carrancudo e ainda briga com o colega por tê-lo acordado 5 minutos mais cedo, que ele nem gosta do pão da padaria da esquina que o colega sorridente pagou. Poham, os dois devem ser vizinhos, o primeiro deve ter convidado o outro pra passar na padoca, tá aí sorrindo e o segundo reclamando da gentileza? Tá esperando uma bandeja na cama e um bilhete gentil do chefe que não tem pressa de chegar no trabalho? É essa atitude de constante insatisfação que me incomoda. Onde estão as orações matinais de "agradeço pela vida, e me encoraja a fazer do pouco que tenho o melhor que posso oferecer, pra que o sorriso de gratidão me seja sinal da Sua graça".
Desde que aquela senhora me falou sobre piedade, passei a eliminar esse sentimento da minha vida. Amo aqueles que fazem das dificuldades um desafio, e simplesmente ignoro os que persistem em se lamentar e se rebaixar. Competir em nível de desgraça, então, é abominável. "Cara, que sono, fui dormir tarde ontem fazendo faxina" "Ih, nem te conto que lá do casa nem faxina deu pra fazer, tava com a ernia atacada, não sobrou dinheiro pro detergente, meu marido fez hora extra e ainda me pediu pra esquentar comida, e a mulher do salão ainda errou o tom das luzes! Eu é que tô um caco!" (desculpa, era pra eu ficar com dó do que mesmo?)
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Atualizando: é muito irônico ler esse texto hoje, véspera de Copa, originalmente escrito no celular enquanto cruzava o serpenteado do Joá completamente engarrafado em maio de 2013, com um motorista mucho loco às 6h da manhã me equilibrando no salto já que o máximo da gentileza que cabia ali era alguém segurar minha bolsa. De lá pra cá, a necessidade de não engolir sapo, mas de expor eventuais insatisfações cotidianas pra conseguir dissecá-las. Aos poucos você acaba se vendo na mesma relação de rebaixamento pela impotência que nos vemos em algumas situações.
Mas será que é mesmo impotência, ou esse comodismo covarde de nos obrigarmos a aceitar situações degradantes, ao invés de olhar pra cima e lidar com elas de forma leve e positiva, ou mudar todo o cenário?
Fica a reflexão, eterna reflexão...
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