domingo, 11 de agosto de 2024

pais (o meu e o delas)

o colo do meu pai era severo, mas que não precisa de grandes explicações pra ser meu maior ninho. o colo do pai delas é cheio de gargalhadas e auto-entendimento, despretenciosamente.


com meu pai aprendi que princesas são diplomatas e amazonas, e não seres indefesos a espera de um resgate - afinal, meu castelo já era de vida e amor. com o pai delas eu aprendi que sou ogrinha e também absolutamente frágil, e juntos somos mais fortes pra criar princesas melhores do que eu fui. com meu pai eu criei gosto pela ordem das coisas - de gavetas a louça na pia - que me deram estrutura profissional e retidão nas relações. com o pai delas encontrei as delícias da preguicite no sofá, de se embrenhar numa trilha desconhecida, da criatividade caórdica que me deu liberdade de escrever e sonhar. com meu pai era fácil fazer a gargalhada ecoar, ter meu nome conhecido em qualquer roda, de não ter medo de me impor e expor. com o pai o silêncio é saboroso, ser humilde é uma lição diária, e que ceder às vezes é o único caminho para que possamos vencer juntos.
com meu pai, eu entendi que a força de um homem não invalida a tenacidade da sua companheira, e é no respeito mútuo que os filhos encontram o seu próprio caminho.
com o pai delas, en entendi que sua história de ensina, mas não determina seu caráter, e que a grandiosidade de está no amor pela vida que borbulha.
com esses dois, eu aprendi a ser quem eu sou. escolhi a ambos, em diferentes esferas. e fui amada, cada um a sua maneira, pra que eu pudesse dar às minhas filhas toda a dignidade, realeza e sabedoria que ambos me deram - como filha e esposa. AMO VOCÊS!

domingo, 21 de julho de 2024

O que café e branding tem em comum?

 Primeiro, vamos entender o que diferencia esse barrinho adoçado desse chá-fé: o “extra-forte” não significa sabor intenso, mas que pra mascarar impurezas e baixa qualidade dos grãos, passa por torra excessiva e o amargor pede muito açucar pra se tornar bebível.

Já o gourmet tem essa conotação de esnobe, mas saber que só tem café mesmo e com diferentes graus de torra abrem uma possibilidade enorme de extrações e aromas - e não amarga!

Eu vejo pessoas e marcas exatamente assim: aqui, tem aquele que nunca buscou entender seus fundamentos, que se contamina com tanta interferência externa, e pra entrar num padrão de mercado, acaba se queimando, e vai precisar de muitos artifícios pra se tornar agradável. De cá, uma identidade bem definida, que se adapta à demanda e cria possibilidades memoráveis.

Agora, cê sabe qual o preço deles na gôndola do supermercado? Acredite, não é tão diferente assim. A maior diferença: o primeiro vai sempre te dar azia…


Então, vai um BOM café aí?

pão é pão

 pão será sempre pão. dependendo do contexto histórico, uma receita diferente. conforme o país, um nome específico. dependendo da família, um jeito de ser consumido. mas pão será sempre pão.

e isso não é sobre pão.

responder à pergunta "qual é sua religião" me trazia uma série de questionamentos internos. e antes que atirem a primeira pedra ou comecem as pregações, isso não é uma discussão sobre credos.

eu nasci num contexto bem sincrético. batizada católica e sempre às voltas com grupos de oração, meu lugar favorito no mundo era a biblioteca cheia de símbolos e livros místicos da minha madrinha, e amava passar as férias ouvindo meu avô que era médium espírita. filmes de bruxaria e ocultismo eram documentários com licença poética e não mero entretenimento. minhas edições favoritas da Superinteresante eram as de civilizações antigas e seus cultos sobrenaturais. traduzi um livro de umbanda. na minha mesa tem cristais e um buda, e na entrada do escritório ficam o anjinho da guarda e um filtro dos sonhos. já recitei o terço mentalizando "ohm" ao invés de ave-maria. "Alice dentro do espelho" me mostrou a face de Deus no Tempo. eu plantei a lua como um pedido à Gaia para engravidar (e funcionou de primeira). minha feminismo luta por equidade por causa de uma PhD em comida. minhas melhores clientes são evangélicas. já convenci ateus de que o Algoritmo do Universo é que rege cada milagre das nossas vidas. 

mas minha espiritualidade nunca foi dúbia. desde o útero (ou talvez muito antes, dependendo de como você acredita), minha mãe me apresentou o Movimento Focolare. cresci vendo como Chiara Lubich traduziu sua fé dentro da sua expertise acadêmica e construiu discursos, estudos e palestras - além de amizades com grandes líderes das mais diversas denominações religiosas - que traziam o tema Unidade num diálogo construtivo e convergente. na minha cabeça, era mera questão de idioma que nos afastava por causa de interpretações proféticas. literalmente, era apenas o idioma que causava ruído. era absolutamente normal ouvir um africano explicar sobre como professava sua fé e vivia o divino, na mesma mesa que um inglês luterano ou um japonês xantoísta. as diferenças de crença eram meras diferenças de idioma, que tinham sua própria expressão e linguagem, representações e entendimentos. mas todo mundo falava da mesmíssima coisa: somos um com o todo.

daí pra eu me apaixonar por todo tema que envolva linguagens e como usá-la de forma a arrebatar seu público - de seitas religiosas a marcas capitalistas - foi natural. Os vocábulos e simbolismos podem variar - e é isso que vai determinar quem vai te seguir ou te repelir. meu trabalho como estrategista de comunicação é exatamente encontrar qual é o seu brilho, como o sagrado se manifesta em você e traduzir isso pra sua audiência.

então o que era sobre pão, agora você entendeu que não é sobre religião. mas sobra comunicação - que é, etimologicamente, a ação de transformar juntos.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Amo ser mãe, maaas...

 Sempre quis ser mãe. “Aos 30”, pensava eu ainda adolescente, porque sabia da responsabilidade em criar bons alicerces pessoais pra ser “uma boa mãe”. Uma inteção nutrida por 20 anos de muito estudo, convívio e realismo.


Tracei um plano de carreira em volta das limitações conhecidas e um “plano de fuga” pro que é tão individual (e sim, precisei acioná-lo algumas vezes pra não me perder completamente). Sabia que um emprego CLT tinha suas delícias de uma previsibilidade e certa estrutura, mas também via uma expectativa de presença e performance que eram imcompatíveis com a necessidade biológica, neurológica, emocional e social de crianças que tinham seus momentos mais sensíveis e sucetíveis terceirizados (e sim, quanto mais vunlerável a mulher, menor o poder de escolha sobre a qualidade desses cuidadores "secundários"). Empreender era - como uma perfeita lei newtoniana de Ação e Reação - de uma liberdade absurda, que exigiria um comprometimento sobrehumano - e, empiricamente, sabia que a resiliência, a inteligência emocional e muito jogo de cintura seriam indissociáveis com ou sem filhxs.


Hoje atuo transformando histórias em pilar estratégico de marcas pessoais, e organizar dados empresariais que fortalecam cultura e branding.

Ora ora, isso é intrínseco ao cuidado pra que nossas crianças se percebam protagonistas e saibam a riqueza dos seus saberes...


É mortificante lidar com mentoradas que chegam debilitadas emocionalmente, menosprezadas profissionalmente, limitadas afetivamente, porque a maternidade foi “vendida” como (mais) um papel socialmente compulsório que prometia a plenitude existencial, mas que nunca tiveram sequer a liberdade de sonhar - quiçá questionar - caminhos diferentes.

Sim, eu amo ser mãe (assim como amo as gêmeas, fruto e razão de ser dessa vocação) e honro todo o sacro-ofício porque foi uma escolha planejada. Mas não é pra qualquer um.

Minhas filhas precisarão conviver com pessoas que ainda vem de lares silenciados e que só se expressarão na dor, porque ainda existe um enorme tabu na não-maternidade.


É de uma responsabilidade enorme, e com tanta exigência - e negligência - do capitalismo, que requer uma sabedoria enorme enão vejo jamais como uma decisão de egoísmo. Mulheres que repudiam essa escolha devem estar igualmente feridas. Quando uma Larissa Pinta Preta for “desnecessária”, aí sim, teremos paz pra faar sobre novas gerações com mais liberdade e amor incondicional.


Obrigada por me lembrar porque eu amo meu maternar: eu pude escolher!