domingo, 19 de janeiro de 2025

cabeleira (você aguenta o processo?)

 meu cabelo foi sempre... digamos... notável!

geneticamente, a juba encaracolada vem do meu pai, que cuidava com carinho fazendo rabo-de-cavalo com requintes de plástica de tão bem puxado, cuidadosamente finalizado com tranças bem presas. "pra não armar", dizia ele, encantado. fiz escova pouquíssimas vezes, e ele me arrastava pra chuveiro e dizia que não era pra mudar quem eu era. mas quando precisei, pra uma apresentação de dança, foi ele quem me ensinou a "rodar touca".

na família da minha mãe, o auto-cuidado era restrito à saúde física e emocional, ao desenvolvimento intlectual e espiritual, à melhoria profissional e expressão artística. o orgulho das rugas causadas por gargalhadas era enorme, e a vaidade era quase irrelevante, embora, ironocamente, todas pintaram os cabelos pra além dos 60 anos de idade.

quando fui pra faculdade, comecei a me questionar sobre a conexão entre estética e identidade. éramos 20 meninas na turma, eu era a única cacheada - mesmo sendo 6 delas negras. elas fizeram uma vaquinha de aniversário, pra que eu entrasse pra química, e percebi o quanto meu amor próprio estava sucumbindo á pressão e referência externas. usei o dinheiro pra, pela primeira vez, um especialista cuidar dos meus cachos, e cortei curtinho.

aí conheci meu marido. e mesmo com o meio pote de creme pra manter oa cachos em ordem, ele enfiou os dedos passando pelo pescoço e orelhas, sacudiu minha juba e falou "agora sim! tem que hostentar!" e me lembro de ficar parada ali na calçada uns 5seg me dando conta de que aquele cara que eu conhecia há menos de uma semana merecia o resto dos meus dias. começou a fazer sentido que cuidar de mim nada tinha a ver com fingir ser outra pessoa. com a maternidade, precisei adaptar meu cabelo pra aliviar a rotina de auto-cuidado e ainda valorizar a mulher mais dinâmica, resiliente, criativa que aquela jornada me transformara. e conheci, encantada, nas horas de salão, histórias de mulheres que estavam há anos em diferentes transições pra assumir sua beleza natural.


e é claro que isso não tem a ver (só) com com os padrões estéticos femininos que questionei. mas principalmente com as rotinas necessárias pra se conectar com nossa essência, bancar os processos necessários pra isso e saber celebrar-se.


nos meus processos de consultoria, sempre convido a cliente a uma viagem na sua própria biografia. certa vez, uma me perguntou "desde qual fase da minha vida faz sentido falarmos aqui?" e ao final da sessão ela entendia o quanto a menininha que ela havia sido (silenciada ou exaltada) se conectava com suas questões atuais e realizações profissionais. só então é que traçamos um plano de ação e elencar as ferramentas necessárias pra alcançar o real objetivo (que, não raro, é diferente do que nos conectou). são semanas de muito bate papo, busca e aplicação de conceitos e fórmulas normalmente vendidas como prontas, mas que sendo entendidas e personalizadas, não são abandonadas nas primeiras dificuldades, e dali a poucos meses já pe possível sentir o copo cheio.

a marca pessoal nunca foi sobre carreira. é sobre valor próprio. é entender que não dá pra acordar e por a cara no mundo de qualquer jeito, é preciso atenção e intenção, rotinas cabíveis de auto-consciência, estratégia e adaptação à diferentes realidades e momentos.


olhe pra si agora. tire os olhos da tela e olhe-se, de verdade. sem julgamentos, só olhe. reconheça a menina descabelada, a adolescente rebelde, a jovem questionadora, a mulher que desafia. feche os olhos e imagine a senhora serena de si mesma que olha pra você e diz: seja.

(ah, e se quer entender como briblar mesmo os bad hair days da vida, me chama pra dois dedin de prosa!)

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