domingo, 3 de julho de 2011

Do ócio (ou Gaveta Vazia)

Durante a faculdade brincava que apresentaria meu TCC com as malas no carro, pronta pra me mudar por oportunidades melhores de trabalho. Dois dias antes da minha banca recebi a convocação pra assumir um cargo público numa cidade maior.
Três meses depois, pedia exoneração para atuar numa empresa privada. Não queria esperar 2 anos batendo carimbo atrás de um balcão até poder concorrer um cargo mais alto. Com salário menor, e uma rotina muito mais intensa, que me proporcionaria desafios e aprendizado, comecei a sentir o gosto bom da adrenalina de atender muita gente, com pouco tempo, e recursos ainda por desenvolver.

Esse mês fiz o caminho inverso. Estava numa agência paulista, com uma rotina de dedicação praticamente exclusiva. Rádio ligado 24h/dia, sem fins de semana, notebook a tira colo o tempo todo. Ia pro pavilhão de eventos às 7 da manhã, saia da firma às 9 da noite. Adrenalina, intensidade, produtividade total. Uma promotora me fez uma proposta de um salário expressivamente maior, pra um cargo dentro da minha formação acadêmica, indicada pelo meu desempenho peculiar e diferenciação profissional.

Só que até o negócio pegar o mesmo ritmo alucinante, passei os primeiros dias em quase absoluto ócio.

Para muitos, o trabalho ideal é justamente não ter grandes responsabilidades, receber um holerite poupudo e mordomias no escritório. Mas pra mim, tem sido um choque e tanto.
Tempo ocioso, cabeça cheia de idéias, vontades, planos, desejos. Querer fazer milhões de coisas, ter consciência da própria capacidade, mas precisar ponderar sobre cada iniciativa, cada exposição, querer mostrar além do que se pede, e ao mesmo tempo, saber da imprudência de que cada ato pode ser entendido como exibicionismo, e acabar prejudicando a qualidade do que é apresentado.

E uma reportagem hoje me vez refletir sobre o impacto desse tempo em que o sentimento de inutilidade me abateu, me causou uma leve crise existencial.
A inércia da inatividade pode fazer muitas pessoas simplesmente se acomodarem num ritmo - ou com a falta dele - e realmente se tornarem improdutivas, insignificantes, irrelevantes. E daí é extremamente difícil sair dessa fase e voltar a uma posição decente, cuja recompensa seja a tranquilidade do frenesi das vitórias e conquistas que causa orgulho.

Depois de muitos comentários essa semana, e muita reflexão, discussões, e conselhos pra alguns amigos que me procuram pra melhorarem sua postura no trabalho, nada melhor do que um domingo frio e com promessa de chuva para organizar pensamentos, metas, colocar no papel planos, idéias, ouvir meus próprios conselhos e refletir, além de abrir meu já defasado projeto ToDoToGetThere para atualizações, e descansar com uma boa leitura.

NADA É JUSTAMENTE O QUE MUITA GENTE QUER PRA SER FELIZ.
NADA É TUDO O QUE EU PRECISO PRA FAZER TUDO!