sábado, 23 de setembro de 2017

Vida Nerd

Sempre fui nerd. Nunca fiquei mais de 2h estudando e normalmente era a primeira a acabar as provas. Tenho uma inteligência normal, dentro dos padrões de pessoas comuns. Fui bolsista integral na faculdade por ficar em primeiro lugar geral no vestibular (de uma faculdade privada do interior enquanto estudava pra federais concorridísimas)

O que me fez ser "mais inteligente" que as outras pessoas foi VIVER O MOMENTO PRESENTE. Eu estava inteira na sala de aula, absorvia cada palavra como se fosse vital, e saindo dali buscava experienciar tudo. Respirar mais profundo para acalmar - psicologia elementar - e a enxaqueca que me dava por desidratação e fome - biologia básica - do vento que criava atrito - física elementar - e precisava mudar a marcha da bicicleta - mecânica - e reconhecer o que me fazia mal pro estômago - nutrição e química orgânica. A gente lia e escrevia com um dicionário do lado  e saber que se bebemos 2L de leite por dia era preciso uma caixa de longa vida por semana e compensava comprar no atacado - matemática financeira - e que se eu pedalasse mais forte indo pro ballet eu já podia pular o aquecimento e podia treinar meus passos falhos antes da aula - fisiologia.

A gente aprende muita coisa na escola que é extremamente útil, mas ninguém nos ensina a aplicar esse conhecimento. E esse é o maior aprendizado que meus pais puderam me dar, como professores por carreira e por vocação: viver! Vivenciar!

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Coroações

Em pleno século XXI e com revoluções sociais globais profundas, ainda tem concurso de beleza em que as "modelos" mal conseguem articular frases inteiras e se exibem em trajes de luxo e de banho...

Modelo pra mim é aquela mulher que acorda cedo e sorri ao trocar um carinho de bom dia com quem estiver ao lado dela na cama - o marido, a companheira, o filho ou o bichinho de estimação já que ela escolheu morar sozinha - que consegue se alimentar com tranquilidade e equilíbrio, e tem a disciplina de se exercitar com parcimônia só pra acordar o corpo. Que enfrenta trânsito com educação, que cede lugar pra quem precisa - idoso e grávida, mas também aquela criancinha que mal equilibra no ônibus, o cara que tenta ler surfando no corredor, o turista acotovelado. Que no trabalho é respeitada pelo seu carisma, e ninguém a julga pela aparência baseada nos padrões estéticos das revistas de moda, e que é reconhecida e valorizada pela sua competência técnica e humana. Que recebe elogio sincero e pode contar com as críticas que a lapidam pra melhor. Que não precisa engolir choro porque é compreendida pela sua natureza, e exatamente por isso se expressa de forma mais forte, poética, clara. Que não precisa ter medo de ter seus direitos de ir e vir violentados. Que vai tomar todas com as amigas se tiver vontade, porque sabe das responsabilidades que tem e não sente o mundo sobre as suas costas por causa delas. Que sabe que gentileza e cavalheirismo não tem nada a ver com o que você tem no meio das pernas.

Miss pode ser homem também. E nem vou entrar no mérito daqueles homens que também sofrem com o machismo por não serem machos alfa - vítimas equânimes de padrões estéticos e comportamentais da mídia. É aquele cara que preferiu estudar a ir pra balada a semana inteira e na véspera do exame dormiu bem pra estar tranquilo. É o cara que sabe que se homem chora é mais humano e menos babaca. Que tira vantagem de ser fisicamente mais forte pra ajudar quem não é. É aquele pai "herói" que não só "ajuda", mas é pai junto que educa em parceria e pra vida toda, mesmo não morando mais junto. É o cara que até faz chacota mas com aquele brother meio cérebro que ainda acha que homem tem que ser ogrão e pegador tentando tirar sarro quando negou convite pro happy hour pra ficar em casa com a esposa que tava tristinha ao telefone. Que pode até elogiar físicamente alguém, mas o faz pra que ela, e só ela ouça e não pra impor seus desejos, e respeita negativas em qualquer grau. Que ouve e debate pelas idéias em si, e usa as diferenças pra melhorar coletivamente as coisas. Que usa seu papel mais desenvolto na sociedade pra garantir que todos o tenham.É o cara que sabe que feminismo é a luta por direito de ser gente, e não de supremacia da mulher, e encoraja isso nas amigas e exige isso dos amigos.

Modelo é aquela pessoa que você nem conhece, mas só de alguém contar pra você sobre, te vem ao pensamento quando você quer fazer uma coisa boa, simples e verdadeira e tem medo de ser julgada, aí você respira fundo, abre o sorriso e enfrenta o mundo. É aquela pessoa que certamente lida com problemas de auto estima, que tem angústias, que ainda não realizou vários sonhos, mas que se olha no espelho e dá mais atenção ao brilho dos olhos do que alguns centímetros fora do manequim de revista. Pra carregar uma coroa tem que ter a cabeça erguida pela coragem de fazer sempre o seu melhor, braços graciosos pra abraçar quem precisa, barriga "no lugar" porque ali é o chacra de coragem, e não um mero músculo a ser malhado à exaustão, que tem pernas firmes pra aguentar as pedras do caminho independente do tônus estético, que anda com segurança e peito aberto porque é bem vinda e bem quista. Que abre o sorriso e ilumina o ambiente e ao abrir a boca não fere.

Esses concursos deviam apelar pra pessoas que saibam o que significa desejar a paz mundial. Que sejam lindas sem forçar a barra ou quilos de maquiagem e laquê. Que sejam soberanas em empatia, em representatividade, em exemplo de humanidade e gentileza.

E sei que pouca gente tem a capacidade de reivindicar essa coroa sem hesitar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Banco de três pernas não manca

Essa curiosidade era mera coincidência de design quando era criança, já que sendo 3 irmãos, meu pai sempre construía nossos cantinhos de brincar em trios e era mais prático de montar e improvisar.
A medida em que o universo e a consciência iam se expandindo, comecei a notar que a trinca é uma regra de equilíbrio em várias ocasiões: as divindades trinas, os tripés de alguma teoria de gestão, as maiores empresas são fundadas por um trio...

Há mais de um ano meu marido e eu resolvemos aproveitar que ambos estávamos desempregados desimpedidos profissionalmente pra nos dedicarmos ao nosso sonho de hospitalidade. E na estruturação acabamos percebendo que as reuniões com cliente sempre fluiam melhor em 3. Eu, ele e o cliente, ou um de nós e o casal que iríamos trabalhar. Com 4, dispersávamos, com 2, ficavam dúvidas.

Achei num dos meus (milhares) de cadernos de aleatoriedades um rabisco de uma oficina de pensamento com a Mandalah, que culminou num brainstorming individual de que quando temos 3 apoios o equilíbrio acaba sendo mais fácil do que uma dupla que não pára em pé ou uma turma desnivelada. E pensei de novo: banco de três pernas não manca.
Um casamento que se evolui com um filho, ou num trabalho conjunto, ou na espiritualidade. Sócios que tem na secretária seu ponto de orientação, ou naquele venture pra quem precisam prestar contas e por isso os força a manter o plano ou se adaptar da melhor forma possível. Aquela amiga sincera que vai desempatar uma discussão improdutiva. 'tendeu?

- Ah, então é só colocar alguém no meio que dá certo!

Claro que não! Se não puderem confiar mutuamente nesses 3 pilares, vai todo mundo pro chão, né! E tem vários textos desses motivacionais, sem mencionar as diversas teorias de administração, marketing, RH, finanças que se apoiam em trígonos.

É nítido pra quem tem o mínimo de sensibilidade a grande mudança na forma como nos relacionamos coletivamente. Os negócios mudaram, a forma de consumo mudou, e como nos comunicamos e compartilhamso então! Pela numerologia, "após a individualidade e a união, surge a interação. É o frutificar, é a expansão".