domingo, 28 de abril de 2013

92% a 25% - dos alardes malsucedidos para a Copa

Nos últimos anos eu venho me dedicando a estudar as formas de comunicação corporativa: pelo material impresso, pela publicidade, por envolvimento em programas culturais ou sociais, pela forma como seus funcionários se comportam frente ao mercado, pela interação direta em eventos ou pelo simples patrocínio a qualquer causa.

E, como sempre estive ligada ao mundo esportivo - aos bastidores, claro - é de praxe acompanhar toda a evolução das obras da Copa e Olimíadas conhecendo tanto o mundo dos megaeventos quanto o jeitinho brasileiro que milagrosamente consegue fazer com que as coisas (aparentemente) funcionem de algum modo. Com o deadline cada vez mais próximo, a situação é cada vez mais crítica se observarmos as notas rápidas - e igualmente tão rapidamente abafadas - em relação aos imprevistos, interdições, retardos de cronograma e necessidades de mudança no projeto, as declarações de mídia manipuladas pelos órgãos interessados em fazer dos megaeventos uma prova de que o Brasil é mais do que carnaval me deixam, no mínimo, intrigada.

No começo de março, o assunto era o atraso das obras. Aí, dias depois, declaram que 92% do Maraca já estavam prontos (!!!). Em seguida, anunciam a interdição do Engenhão por erro de cálculo na estrutura. E então me deparo com uma manchete que retrocede o status dessas obras a 25%, mesmo com o jogo-teste no Maracanã agendado e mantido, apesar de nitidamente inacabado...



Ainda sim, entre perdas financeiras, especulações de falência e socorro estatal, o Eike quer ser dono do que nosso parco dinheirinho financiou - e nem vamos entrar no mérito dos superfaturamentos e revisões de projetos extrahonerosas...) Quem vive no mundo dos negócios e dos acordos, sabe muito bem que a estratégia para engajar de cara a recém criada IMX vai ser o trampolim para recuperação do conglomerado, mas a qual preço para o poder público? Vamos falar mais claro: alguém se candidata a calcular quanto do seu salário sai de impostos e o quanto você realmente vai poder usufruir disso, sendo obrigação do tomador da verba retornar serviço a altura do valor pago?

E quem realmente VIVE nas cidades que receberão a Copa e as Olimpíadas, fica se perguntando: aonde, afinal, estão indo os zilhões de reais teoricamente destinados às obras de revitalização de áreas urbanas e adequação de infra-estrutura pública? Ah, sim, deve ser só pra maquiagem maravilha, enquanto o real problema será agravado com os elefantes brancos que o Brasil não tem planejamento adequado pra usar (leia-se, cadê os incentivos ao esporte divulgados em campanhas eleitorais?)...

Sinceramente, tudo o que venho estudando sobre branding tem me despertado uma atenção aguçada sobre como as empresas tratam seus produtos e estratégias. Mas sinceramente, a marca Brasil ainda está muito confusa em toda a sua concepção... Pelo menos pra quem tem vivido dentro dela...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Da inocência de ser simples

Quando éramos crianças, tudo nos era possível. Mas quanto mais o tempo passava, mais "não pode" ouviamos do relação as traquinagens, algumas cicatrizes de travessuras começaram a reprimir alguns impulsos aventureiros, os castigos pelos nossos erros nos boicotaram a imaginação e se instaurava então a ditadura do acerto, do prevenir-se, do medo de não conseguir.
Me dei conta de que ser adulto é abrir mão justamente daquilo que nos encanta tanto nas crianças: a inocência de que nada é complicado, proibido, ridículo.
Tudo bem que os pequenos estão descobrindo o mundo que nos já desvendamos e até aprendemos a manipular. Mas será mesmo que isso realmente nos torna mais evoluídos? Não perdemos o vislumbramento necessário à vida, à criatividade, ao medo bom que nos faz prudentes mas destemidos, que com a visão simples, pura, inocente as crianças vêem um mundo de possibilidades que nossos traumas, tombos e erros de adulto já não nos permite mais enxergar?

Nesse feriado peguei uns vídeos de quando éramos crianças. Minha cena favorita é da caçula ainda engatinhando imitando meu avô ao pegar minha vassourinha e ir arrastar a cobra-cega que minutos antes ele enxotara de volta pra horta. Uma amiga exclamou "que absurdo, falta de responsabilidade! Se pica a menina, ela adoece!" e aí me dei conta do quanto somos fragilizados e vemos perigo nos mais inocentes gestos. Naquela cena, até bem pouco tempo, eu só conseguia notar um avô que não proibiu a neta de brincar, olhando e cuidando de longe, pois seria excesso de zelo não lhe permitir descobertas por suas próprias experiências.
Tenho sentido que, como adultos, temos nos permitido muito pouco do termos de risco. E ainda chamamos isso de experiência... Mas o que realmente acontece é deixarmos de agir porque já viveu algo parecido, porque fulano já passou por isso, porque podem te chamar de sei lá o que, porque... Por que?
A vida não é deja vu, pode ser que com você dê certo, que aquele detalhe que pôs tudo a perder antes agora faça tudo funcionar, que a idéia que você faz de um fato não é bem a realidade, que aquela situação tenha fatores alheios a sua vontade ou compreensão que farão tudo dar certo.

Lembro que quando brincávamos com as outras crianças da rua, nos desafiávamos a superar uns aos outros, e quando alguém fazia a mesma coisa de um jeito diferente, se tornava o maioral da turma! E nem precisava se dar tão bem assim! Hoje nos esforçamos pra definir padrões de comportamente e tem quem se apavore a simples idéia de transgredir regras ou inovar - mesmo quando é necessário. Onde foi parar nossa inner voice que nos transformava em heróis de nos mesmos e nos inspirava a descobrir o mundo com uma curiosidade insaciável, e nos fazia brincar displicentemente sem hora ou lugar, regras ou limites?

Explico a foto: pesávamos pouco menos de 20kg. Sim, mamãe nos pesava e media e anotava tudo, e sempre nos dispertava a curiosidade com aquela mudança e a diferença um pro outro. Daí, quando começou a reforma de casa, a lata de 20L era uma associação óbvia! Usar essas distrações de descobertas como ganha-tempo pra lavar e pendurar as fraldas (ufa! somos 3 de 86 a 89)  só foi possível porque meus pais preservaram essa inocência de constante descoberta, e redescobriram isso com a gente! Hoje brinco de cenógrafa, ele se tornou engenheiro e ela se descobriu na arquitetura. Tudo se encaixa! Hahaha!

Lembrei muito da minha amiga JuBaron. A conheci num momento de auto-reencontro maravilhoso, e não houve um único dia essa semana em que não pensasse como isso deve ser mais intenso quando se tem um filho. Ou lembrando da doce Pepina, que fazia arte com a filhota e às vezes era difícil não se divertir como se fossem ambas criancinhas... Escutar a Flavinha se espantando com filmagens da infância que dispensaram o retorno ao psicólogo, e da Bia e a Nai contando com um sorriso imenso - não com saudade, mas nostalgia autêntica e viva - das molecagens do colégio... E ainda as tardes risonhas no colo do namorado confessando vontades infantis - mas ainda vivas! - que quase se perdem nas obrigações da vida de adulto...

Poder perceber novamente o mundo pelos olhos da inocência, da simplicidade, se deixar afetar e maravilhar com o menor detalhe é um milagre que acontece o tempo todo...

Seus olhos estão abertos e iluminados o bastante pra enxergar?

=)