sexta-feira, 24 de maio de 2013

O poder do obrigado

Comecei a trabalhar com meus pais antes mesmo de entrar no colegial. Professores de educação física, envolvidos com sindicatos e organização de olimpíadas escolares, foram melhor laboratório de psicologia, RH, desenvolvimento e treinamento que muito workshop especializado, simplesmente porque era vivenciado plenamente.

Lembro bem de que tudo que era feito sob a supervisão de um deles - seja a empregada doméstica nas suas tarefas, ou um dos filhos com as lições da escola, os atletas treinando pra competição ou os colegas que dirigiam equipes ou apitavam os jogos - tudo, absolutamente tudo, tinha um retorno imediato. "Muito bem", "Legal!", "Olha, preste atenção!", "Hum, que tal fazer desse jeito?", "Vix, você pode fazer melhor, hein!"

É claro que quando a gente errava levava bronca de corar o rosto e marejar os olhos. Mas a gente sabia exatamente como estava se saindo na menor das tarefas. Naturalmente, com o tempo, não havia necessidade de broncas, e algumas coisas já nem precisavam de acompanhamento, porque sabíamos como agir, conhecíamos as expectativas e as regras. E, quando a situação mudava, o ajuste era mais fácil, porque tínhamos a liberdade de pedir orientação sem o receio do "pô, você fez tudo errado!" depois do leite derramado.

Desde que comecei a viver por minha conta, tenho percebido o quanto falta esse feedback constante, nas mais diversas situações! E não fiquei presa só na perspectiva de filha. Fui funcionária dos meus pais e via esse relacionamento idêntico no mundo profisisonal. Na faculdade, nos estágios, empregos, morando fora, a percepção é a mesma: colegas de trabalho que tiveram algum chefe que dava esse feedback tinham um desempenho melhor, eram mais pro-ativos, se dedicavam mais, e por menor que fosse o salário, havia a contrapartida emocional de realização, de satisfação e sucesso.

Logo que formei, trabalhava numa startup que era o sonho de todo jovem: dinâmica, participativa, em construção, com alto potencial de mercado. Eu só saí de lá porque financeiramente eu estava estagnada, não conseguiria fazer uma especialização pra subir de cargo. Chorei horrores antes de finalmente pedir demissão e ir trabalhar numa empresa maior e que me pagava mais. E apesar do pagamento ser bem melhor, os 2 ou 3 meses que eu fiquei lá detonaram toda a auto-confiança que eu tinha no meu próprio trabalho e capacidade de ser útil.
Simples: na primeira, todo mundo sabia o que o outro estava fazendo, sabia seu papel no processo completo, as pessoas se interessavam no seu jeito de fazer e na forma como se via as coisas. O dono tinha uma sala de vidro com a porta aberta, e ia na sua mesa pra ver seu trabalho e saber como estava indo. Se dava esporro era em todo mundo junto e já emendava com a solução retomando o projeto inicial com as adaptações necessárias. E quando dava certo, fazia questão de comemorar, mas quando não dava, tinha pressa em traçar alternativas depois de um curto rosnado de frustração não direcionado a ninguém. Eu trabalhava pra burro, fazia muita hora extra, ganhava só o suficiente, mas eu tinha certeza de que eu tinha minha relevância. Na outra, o chefe parecia sequer notar nossa presença (dentro da mesma sala num departamento subalterno), e nas perguntas mais básicas sobre políticas, procedimentos e diretrizes, indicava a página do manual para que verificarmos. É lógico que dava m*rda de vez em quando, mas um erro de contagem nos atendimentos feitos parecia que toda a estratégia corporativa estava em xeque! E fazia questão de contextualizar que o nosso erro sujaria a reputação dele dentro da empresa (oi? e a gente?!)

Foi aí que me dei conta do poder do "obrigado!". Não da pieguice da gratidão bajuladora. Mas do reconhecimento puro. Sim, tem coisa que não passa da nossa obrigação, mas quando sentimos que a mais banal das atividades é importante - ou no mínimo notada - certamente seu ego, buscando repetir a sensação, vai te motivar a fazer sempre bem feito. Mas ao contrário, se existe a omissão do reconhecimento e as manifestações são apenas na hora do erro, próprio medo de falhar induz ao fracasso. O ser humano é carente de afeto (Maslow que o diga!), precisa do reconhecimento para se sentir pleno.

E começa por nós, e vai para todas as esferas: Chegou? Cumprimente (com um sorriso, de preferência!) O jantar ficou gostoso? Delicie-se! Gostou da roupa? Elogie! O livro que te recomendaram é legal? Agradeça! Mas se te ofenderam, exprima isso sem agressividade e releve. Esqueceram de alguma coisa importante? Pensem em como contornar ao invés de explodir em frustração. Saiu tudo errado? Respire fundo e, se não temo que fazer, então não faça (leia-se fique quieto ao invés de desmoralizar)

Simpatia e gratidão fazem milagres. Vai por mim!

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 Publicado oricinalmente no Blog Psicologando, da amada JuBaron.
A Laryssa é uma inquieta convicta. Já trabalhou como vendedora, agente de turismo, secretária, marketing, eventos, treinamentos e cenógrafa. Mas gosta de resumir sua trajetória como de intensa curiosidade com a alma humana e seus processos de desconstrução, evolução e reencontro. Principalmente onde passamos (pelo menos) 1/3 do nosso dia e sustenta o resto do tempo: o trabalho!

domingo, 28 de abril de 2013

92% a 25% - dos alardes malsucedidos para a Copa

Nos últimos anos eu venho me dedicando a estudar as formas de comunicação corporativa: pelo material impresso, pela publicidade, por envolvimento em programas culturais ou sociais, pela forma como seus funcionários se comportam frente ao mercado, pela interação direta em eventos ou pelo simples patrocínio a qualquer causa.

E, como sempre estive ligada ao mundo esportivo - aos bastidores, claro - é de praxe acompanhar toda a evolução das obras da Copa e Olimíadas conhecendo tanto o mundo dos megaeventos quanto o jeitinho brasileiro que milagrosamente consegue fazer com que as coisas (aparentemente) funcionem de algum modo. Com o deadline cada vez mais próximo, a situação é cada vez mais crítica se observarmos as notas rápidas - e igualmente tão rapidamente abafadas - em relação aos imprevistos, interdições, retardos de cronograma e necessidades de mudança no projeto, as declarações de mídia manipuladas pelos órgãos interessados em fazer dos megaeventos uma prova de que o Brasil é mais do que carnaval me deixam, no mínimo, intrigada.

No começo de março, o assunto era o atraso das obras. Aí, dias depois, declaram que 92% do Maraca já estavam prontos (!!!). Em seguida, anunciam a interdição do Engenhão por erro de cálculo na estrutura. E então me deparo com uma manchete que retrocede o status dessas obras a 25%, mesmo com o jogo-teste no Maracanã agendado e mantido, apesar de nitidamente inacabado...



Ainda sim, entre perdas financeiras, especulações de falência e socorro estatal, o Eike quer ser dono do que nosso parco dinheirinho financiou - e nem vamos entrar no mérito dos superfaturamentos e revisões de projetos extrahonerosas...) Quem vive no mundo dos negócios e dos acordos, sabe muito bem que a estratégia para engajar de cara a recém criada IMX vai ser o trampolim para recuperação do conglomerado, mas a qual preço para o poder público? Vamos falar mais claro: alguém se candidata a calcular quanto do seu salário sai de impostos e o quanto você realmente vai poder usufruir disso, sendo obrigação do tomador da verba retornar serviço a altura do valor pago?

E quem realmente VIVE nas cidades que receberão a Copa e as Olimpíadas, fica se perguntando: aonde, afinal, estão indo os zilhões de reais teoricamente destinados às obras de revitalização de áreas urbanas e adequação de infra-estrutura pública? Ah, sim, deve ser só pra maquiagem maravilha, enquanto o real problema será agravado com os elefantes brancos que o Brasil não tem planejamento adequado pra usar (leia-se, cadê os incentivos ao esporte divulgados em campanhas eleitorais?)...

Sinceramente, tudo o que venho estudando sobre branding tem me despertado uma atenção aguçada sobre como as empresas tratam seus produtos e estratégias. Mas sinceramente, a marca Brasil ainda está muito confusa em toda a sua concepção... Pelo menos pra quem tem vivido dentro dela...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Da inocência de ser simples

Quando éramos crianças, tudo nos era possível. Mas quanto mais o tempo passava, mais "não pode" ouviamos do relação as traquinagens, algumas cicatrizes de travessuras começaram a reprimir alguns impulsos aventureiros, os castigos pelos nossos erros nos boicotaram a imaginação e se instaurava então a ditadura do acerto, do prevenir-se, do medo de não conseguir.
Me dei conta de que ser adulto é abrir mão justamente daquilo que nos encanta tanto nas crianças: a inocência de que nada é complicado, proibido, ridículo.
Tudo bem que os pequenos estão descobrindo o mundo que nos já desvendamos e até aprendemos a manipular. Mas será mesmo que isso realmente nos torna mais evoluídos? Não perdemos o vislumbramento necessário à vida, à criatividade, ao medo bom que nos faz prudentes mas destemidos, que com a visão simples, pura, inocente as crianças vêem um mundo de possibilidades que nossos traumas, tombos e erros de adulto já não nos permite mais enxergar?

Nesse feriado peguei uns vídeos de quando éramos crianças. Minha cena favorita é da caçula ainda engatinhando imitando meu avô ao pegar minha vassourinha e ir arrastar a cobra-cega que minutos antes ele enxotara de volta pra horta. Uma amiga exclamou "que absurdo, falta de responsabilidade! Se pica a menina, ela adoece!" e aí me dei conta do quanto somos fragilizados e vemos perigo nos mais inocentes gestos. Naquela cena, até bem pouco tempo, eu só conseguia notar um avô que não proibiu a neta de brincar, olhando e cuidando de longe, pois seria excesso de zelo não lhe permitir descobertas por suas próprias experiências.
Tenho sentido que, como adultos, temos nos permitido muito pouco do termos de risco. E ainda chamamos isso de experiência... Mas o que realmente acontece é deixarmos de agir porque já viveu algo parecido, porque fulano já passou por isso, porque podem te chamar de sei lá o que, porque... Por que?
A vida não é deja vu, pode ser que com você dê certo, que aquele detalhe que pôs tudo a perder antes agora faça tudo funcionar, que a idéia que você faz de um fato não é bem a realidade, que aquela situação tenha fatores alheios a sua vontade ou compreensão que farão tudo dar certo.

Lembro que quando brincávamos com as outras crianças da rua, nos desafiávamos a superar uns aos outros, e quando alguém fazia a mesma coisa de um jeito diferente, se tornava o maioral da turma! E nem precisava se dar tão bem assim! Hoje nos esforçamos pra definir padrões de comportamente e tem quem se apavore a simples idéia de transgredir regras ou inovar - mesmo quando é necessário. Onde foi parar nossa inner voice que nos transformava em heróis de nos mesmos e nos inspirava a descobrir o mundo com uma curiosidade insaciável, e nos fazia brincar displicentemente sem hora ou lugar, regras ou limites?

Explico a foto: pesávamos pouco menos de 20kg. Sim, mamãe nos pesava e media e anotava tudo, e sempre nos dispertava a curiosidade com aquela mudança e a diferença um pro outro. Daí, quando começou a reforma de casa, a lata de 20L era uma associação óbvia! Usar essas distrações de descobertas como ganha-tempo pra lavar e pendurar as fraldas (ufa! somos 3 de 86 a 89)  só foi possível porque meus pais preservaram essa inocência de constante descoberta, e redescobriram isso com a gente! Hoje brinco de cenógrafa, ele se tornou engenheiro e ela se descobriu na arquitetura. Tudo se encaixa! Hahaha!

Lembrei muito da minha amiga JuBaron. A conheci num momento de auto-reencontro maravilhoso, e não houve um único dia essa semana em que não pensasse como isso deve ser mais intenso quando se tem um filho. Ou lembrando da doce Pepina, que fazia arte com a filhota e às vezes era difícil não se divertir como se fossem ambas criancinhas... Escutar a Flavinha se espantando com filmagens da infância que dispensaram o retorno ao psicólogo, e da Bia e a Nai contando com um sorriso imenso - não com saudade, mas nostalgia autêntica e viva - das molecagens do colégio... E ainda as tardes risonhas no colo do namorado confessando vontades infantis - mas ainda vivas! - que quase se perdem nas obrigações da vida de adulto...

Poder perceber novamente o mundo pelos olhos da inocência, da simplicidade, se deixar afetar e maravilhar com o menor detalhe é um milagre que acontece o tempo todo...

Seus olhos estão abertos e iluminados o bastante pra enxergar?

=)

sábado, 23 de março de 2013

Síndrome de Urtigão

Lendo um dos blogs que leio fielmente sempre, fiquei encasquetada com o "sutil" comentário sobre a baixa auto estima que alguns insistem do manter como seu estandarte mais vigoroso! Parece uma incoerência - e de fato é - que alguém enalteça e se apegue tanto a sua inferioridade.
É claro que eu também tenho minhas lamentações, me queixo da vida, desanimo. Mas me rebaixar pra que tenham piedade de mim é ultrapassar o limite da auto indulgência. Se for pra expor um problema, que seja pra contextualizar o motivo que você pede ajuda, não pra transferir a responsabilidade da sua causa e solução.
Anos atrás uma senhora puxou assunto no ônibus depois de um pedinte mal trapilho passar com a latinha de moedas suplicando um trocado: piedade não vale nada. (e ao perceber meu olhar de "oi?" ela continua) venda alguma coisa, que seja uma caneta bic, um talento pra poesia, no mínimo um sorriso, algo que acrescente ao mundo, mas nunca venda o sentimento de piedade.

No trabalho já tive que conviver com pessoas que passavam o dia reclamando, com cara de esgotamento, descabeladas e corcundas, arrastando os pés, mas era dar 6 horas já estava toda serelepe pra ir pra balada. Eu entendo que nem sempre a gente acorda com a melhor das inspirações, que nossa rotina diária não seja a mais prazerosa e tranquila, mas comece a observar como duas pessoas numa condição social semelhante, da mesma empresa, com cargos idênticos tem uma alegria de viver diferentes porque não lamentam e fazem do que tem o melhor possível. Um cobrador de ônibus que insiste em dar bom dia pros passageiros impede que o mau humor matinal seja maciço dentro do ônibus, enquanto no carro ao lado um outro cobrador só faz o dia mais carrancudo e ainda briga com o colega por tê-lo acordado 5 minutos mais cedo, que ele nem gosta do pão da padaria da esquina que o colega sorridente pagou. Poham, os dois devem ser vizinhos, o primeiro deve ter convidado o outro pra passar na padoca, tá aí sorrindo e o segundo reclamando da gentileza? Tá esperando uma bandeja na cama e um bilhete gentil do chefe que não tem pressa de chegar no trabalho? É essa atitude de constante insatisfação que me incomoda. Onde estão as orações matinais de "agradeço pela vida, e me encoraja a fazer do pouco que tenho o melhor que posso oferecer, pra que o sorriso de gratidão me seja sinal da Sua graça".
Desde que aquela senhora me falou sobre piedade, passei a eliminar esse sentimento da minha vida. Amo aqueles que fazem das dificuldades um desafio, e simplesmente ignoro os que persistem em se lamentar e se rebaixar. Competir em nível de desgraça, então, é abominável. "Cara, que sono, fui dormir tarde ontem fazendo faxina" "Ih, nem te conto que lá do casa nem faxina deu pra fazer, tava com a ernia atacada, não sobrou dinheiro pro detergente, meu marido fez hora extra e ainda me pediu pra esquentar comida, e a mulher do salão ainda errou o tom das luzes! Eu é que tô um caco!" (desculpa, era pra eu ficar com dó do que mesmo?)

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Atualizando: é muito irônico ler esse texto hoje, véspera de Copa, originalmente escrito no celular enquanto cruzava o serpenteado do Joá completamente engarrafado em maio de 2013, com um motorista mucho loco às 6h da manhã me equilibrando no salto já que o máximo da gentileza que cabia ali era alguém segurar minha bolsa. De lá pra cá, a necessidade de não engolir sapo, mas de expor eventuais insatisfações cotidianas pra conseguir dissecá-las. Aos poucos você acaba se vendo na mesma relação de rebaixamento pela impotência que nos vemos em algumas situações.

Mas será que é mesmo impotência, ou esse comodismo covarde de nos obrigarmos a aceitar situações degradantes, ao invés de olhar pra cima e lidar com elas de forma leve e positiva, ou mudar todo o cenário?
Fica a reflexão, eterna reflexão...

domingo, 17 de março de 2013

O que ser quando crescer

É bem comum a gente encontrar vídeos motivacionais, mas esse, em especial, acabou saindo pela culatra num momento muito peculiar de uma pessoa muito próxima e amada, mas que eu vejo o desgaste diário em tentar responder a essa pergunta...

A gente passa a infância inteira sonhando, em devaneios hollywoodianos sobre heroísmo, celebridades, realização, fama e sucesso. E fica a adolescência inteira na maior angústia com essa maldita pergunta. O que eu quero ser quando crescer? E o mais triste, e não raro, os jovens adultos estão frustrados, deprimidos e desgastados por ainda insistirem em buscar essa resposta como se fosse definitiva na vida!

Tem gente que sempre soube o que queria, amou a faculdade que fez, se tornou um profissional seguro e satisfeito, aposenta bem e vai fazer cruzeiro e cuidar dos netos até morrer velhinho e risonho. Mas infelizmente a pressão social pelo padrão de bem-sucedido acelera uma escolha que nem todo mundo está preparado para - ou sabe como - fazer. Já é beeem mais comum gente que entra na faculdade sem saber direito o que realmente gosta, que toma pau em matéria básica da profissão por simplesmente não se reconhecer naquilo, que pula de emprego em emprego e nunca está feliz, tranquilo ou se destacando... e com isso os jovens se tornam adultos frustrados, cansados, ranzinzas, que vão criar filhos humilhados, perdidos, desorientados e sem referência real de sucesso.

Apelo aos institutos de coaching, aos palestrantes motivacionais, aos psicólogos, mas principalmente a cada um de nós mesmos, é que parem com essa pressão de o que vamos ser lá na frente. Só o hoje nos pertence, e por isso eu substituo essa pergunta:

O que você vai fazer HOJE pra crescer? E aí, quando você já tiver feito alguma coisa, e ver no que dá, e aprender com os erros e descobrir novos acertos e alegrias, você mira num próximo passo. E lá na frente, quando já tiver feito alguma coisa, poder responder: eu fui o meu melhor a cada dia. E isso bastou pra eu ser feliz...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

27

Sempre quis chegar aos 27. Aos 7 eu mal sabia de mim, aos 17 eu me sentia dona de mim, aos 37 eu já quero não ter tantas aflições de conquistas por alcançar, dos 47 em diante, só usufruir e me alegrar com tudo o que tiver sido construído. Algo me dizia que só agora é que eu teria, enfim, a plena consciência de que comemorar aniversário é bobagem, que o bom mesmo é celebrar a vida em cada dia, em cada momento, em cada ausência e em cada encontro. E poder ter a alegria de receber cada abraço com o verdadeiro carinho de agradecer ão aos cumprimentos, mas a Deus por me abençoar tanto, com tanta coisa simples, mas de tão rara hoje em dia, preciosas: família, raros e bons amigos, um amor sereno e parceiro, um trabalho que me desafia, energia pra buscar o que ainda não germinou...

Mas acima de tudo, chegar aos 27, da forma como eu cheguei, depois de tantos tropeços, de tanto sofrimento - muitas vezes desnecessário, e com tantas revelações peculiares e surpreendentes, me fez ter um fim de ano de uma reflexão doce, humilde, silente, transbordantemente em paz. Hoje sou feliz, com uma tranquilidade imensurável, uma segurança na alma que só pode vir de Deus, e de tudo o que ele me inspira e me permite aprender.