terça-feira, 16 de agosto de 2016

Chora...

Há muitos anos atrás, na minha primeira decepção amorosa, um amigo me abraçou e soltou a palavra mágica: chora!
Não me perguntou por que, não me pediu pra ficar calma, não me interrompeu. Só me deixou ali, acolhida no seu abraço, lavando ruidosamente o rosto com o transbordo de dores que não eram dele, e portanto não lhe cabia entender, mas pela amizade era seu dever drenar.

De lá pra cá, as dores mudaram, mas as relações também mudaram. Cada vez mais vejo menos amigos assim. Quando nosso peito é pequeno demais pra tanta coisa, quando jorramos nossos sentimentos pra conseguir racionalizá-los, nem sempre podemos colocar tudo pra fora. É muito mais comum, infelizmente, termos que engolir não só o choro, mas também julgamentos, preconceitos, fragilidades alheias incapazes de lidar com as nossas fragmentações.

Conselho de amiga: não dê conselho. Se alguém precisa de colo, é só isso que nos compete dar. Se alguém te pedir ajuda, escute primeiro. Pergunte os motivos só pra incentivar mais uma lágrima de desabafo, e não pra fazer um inquérito judicial. Mostre o seu lado pra aliviar o peso do mundo e iluminar outra perspectiva, e não pra sobrecarregar ainda mais pela opinião diferente.

Chora. Chora junto. Caso contrário, "mais ajuda quem menos atrapalha", já dizia meu vô.

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