Tenho passado por tempos tenebrosos. A bagunça que a casa fica porque as meninas brincam desassistidas enquanto cuido de almoço e quando vão pra escola, me exaure a energia mental pra concatenar tudo que preciso cuidar. A carreira corporativa que foi intencionalmente pausada e que encontrou o empreendedorismo, que se tornou, mais do que uma fonte de renda, suga minha criatividade nas funções comerciais. O casamento que está em consatnte conflito de papéis quando um precisa do colo do outro mas também precisa ser arrimo emocional de todos. Habilidades que são tratadas como mero hobbie por não podermos investir. A rotina que nunca se estabelece, o dnheiro que nunca dá, os projetos que se acumulam na pilha de sonhos.
Tem vários ditados que falam desse fundo de poço. Tem até uma história de um cavalo que caiu num buraco, e por misericórdia o dono resolveu interrá-lo, mas quanto mais terra jogavam nene, mas o cavalo se sacudia e usava a terra pra sair dali. Falam em luz no fim do tunel. A TV ligada sem audiência atenta me fez lembrar de quando estava na Times Square, em que havia tanto letreiro que não percebi que a noite havia caído, chovia derretendo a neve enlameada, as pessoas se agasalhavam mas não paravam de comprar bugingangas. Eu estava ouvindo no fone "Sound of Silence", e percebi que é um lamento a esse consumismo. A música diz que estamos tão atônitos cultuando o deus de neon que criamos que falamos sem se comunicar, que escutam sem se conectar, escrevemos músicas que ninguém canta.
Coloquei o disco do Disturbed - porque até pra sentir as coisas, a gente desaprendeu o caminho natural, e passou a rejeitar os extremos, sejam da paixão ou da fúria. "A escuridão pode te mostrar luz".
E eu acolhi essa frase com toda a tristeza, cansaço, pensamentos intrusivos e escuridão do coração. Eu já vivi, sim, situaçoes muito piores. Mas ser mãe me trouxe uma urgência insana - literalmente, dessas que precisavam ser acompanhadas por psiquiatra - em ter as coisas alegres, leves, acolhedoras, seguras. Olho elas fazendo malabarismos com tanta desenvoltura pela sala, e choro por dentro porque bancar um esporte exige recursos que não temos. Olho paisagens que nçao posso simplesmente pegar o carro e ir visitar - ou que só preciso de mais recursos emocionais do que tenho pra planejar um simples picnic. Desinstalei apps de compras porque me turtura ver promoções das roupas que eu adoraria vestir em palestras e nas reuniões empresariais em que as éssoas me pagam pra dar opinião em como lidar com as pessoas, processos e mercado.
Desse ponto da escuridão, só quero ficar de olhos fechados. Não ouso interromper o som do silêncio. Porque daqui a pouco elas vão chegar cheias de alegria, carências e sonhos, e não vai caber mais essa tristeza.