sexta-feira, 7 de novembro de 2025

É no escuro que vemos a luz

 Tenho passado por tempos tenebrosos. A bagunça que a casa fica porque as meninas brincam desassistidas enquanto cuido de almoço e quando vão pra escola, me exaure a energia mental pra concatenar tudo que preciso cuidar. A carreira corporativa que foi intencionalmente pausada e que encontrou o empreendedorismo, que se tornou, mais do que uma fonte de renda, suga minha criatividade nas funções comerciais. O casamento que está em consatnte conflito de papéis quando um precisa do colo do outro mas também precisa ser arrimo emocional de todos. Habilidades que são tratadas como mero hobbie por não podermos investir. A rotina que nunca se estabelece, o dnheiro que nunca dá, os projetos que se acumulam na pilha de sonhos. 

Tem vários ditados que falam desse fundo de poço. Tem até uma história de um cavalo que caiu num buraco, e por misericórdia o dono resolveu interrá-lo, mas quanto mais terra jogavam nene, mas o cavalo se sacudia e usava a terra pra sair dali. Falam em luz no fim do tunel. A TV ligada sem audiência atenta me fez lembrar  de quando estava na Times Square, em que havia tanto letreiro que não percebi que a noite havia caído, chovia derretendo a neve enlameada, as pessoas se agasalhavam mas não paravam de comprar bugingangas. Eu estava ouvindo no fone "Sound of Silence", e percebi que é um lamento a esse consumismo. A música diz que estamos tão atônitos cultuando o deus de neon que criamos que falamos sem se comunicar, que escutam sem se conectar, escrevemos músicas que ninguém canta.

Coloquei o disco do Disturbed - porque até pra sentir as coisas, a gente desaprendeu o caminho natural, e passou a rejeitar os extremos, sejam da paixão ou da fúria. "A escuridão pode te mostrar luz".

E eu acolhi essa frase com toda a tristeza, cansaço, pensamentos intrusivos e escuridão do coração. Eu já vivi, sim, situaçoes muito piores. Mas ser mãe me trouxe uma urgência insana - literalmente, dessas que precisavam ser acompanhadas por psiquiatra - em ter as coisas alegres, leves, acolhedoras, seguras. Olho elas fazendo malabarismos com tanta desenvoltura pela sala, e choro por dentro porque bancar um esporte exige recursos que não temos. Olho paisagens que nçao posso simplesmente pegar o carro e ir visitar - ou que só preciso de mais recursos emocionais do que tenho pra planejar um simples picnic. Desinstalei apps de compras porque me turtura ver promoções das roupas que eu adoraria vestir em palestras e nas reuniões empresariais em que as éssoas me pagam pra dar opinião em como lidar com as pessoas, processos e mercado.

Desse ponto da escuridão, só quero ficar de olhos fechados. Não ouso interromper o som do silêncio. Porque daqui a pouco elas vão chegar cheias de alegria, carências e sonhos, e não vai caber mais essa tristeza.

domingo, 19 de janeiro de 2025

cabeleira (você aguenta o processo?)

 meu cabelo foi sempre... digamos... notável!

geneticamente, a juba encaracolada vem do meu pai, que cuidava com carinho fazendo rabo-de-cavalo com requintes de plástica de tão bem puxado, cuidadosamente finalizado com tranças bem presas. "pra não armar", dizia ele, encantado. fiz escova pouquíssimas vezes, e ele me arrastava pra chuveiro e dizia que não era pra mudar quem eu era. mas quando precisei, pra uma apresentação de dança, foi ele quem me ensinou a "rodar touca".

na família da minha mãe, o auto-cuidado era restrito à saúde física e emocional, ao desenvolvimento intlectual e espiritual, à melhoria profissional e expressão artística. o orgulho das rugas causadas por gargalhadas era enorme, e a vaidade era quase irrelevante, embora, ironocamente, todas pintaram os cabelos pra além dos 60 anos de idade.

quando fui pra faculdade, comecei a me questionar sobre a conexão entre estética e identidade. éramos 20 meninas na turma, eu era a única cacheada - mesmo sendo 6 delas negras. elas fizeram uma vaquinha de aniversário, pra que eu entrasse pra química, e percebi o quanto meu amor próprio estava sucumbindo á pressão e referência externas. usei o dinheiro pra, pela primeira vez, um especialista cuidar dos meus cachos, e cortei curtinho.

aí conheci meu marido. e mesmo com o meio pote de creme pra manter oa cachos em ordem, ele enfiou os dedos passando pelo pescoço e orelhas, sacudiu minha juba e falou "agora sim! tem que hostentar!" e me lembro de ficar parada ali na calçada uns 5seg me dando conta de que aquele cara que eu conhecia há menos de uma semana merecia o resto dos meus dias. começou a fazer sentido que cuidar de mim nada tinha a ver com fingir ser outra pessoa. com a maternidade, precisei adaptar meu cabelo pra aliviar a rotina de auto-cuidado e ainda valorizar a mulher mais dinâmica, resiliente, criativa que aquela jornada me transformara. e conheci, encantada, nas horas de salão, histórias de mulheres que estavam há anos em diferentes transições pra assumir sua beleza natural.


e é claro que isso não tem a ver (só) com com os padrões estéticos femininos que questionei. mas principalmente com as rotinas necessárias pra se conectar com nossa essência, bancar os processos necessários pra isso e saber celebrar-se.


nos meus processos de consultoria, sempre convido a cliente a uma viagem na sua própria biografia. certa vez, uma me perguntou "desde qual fase da minha vida faz sentido falarmos aqui?" e ao final da sessão ela entendia o quanto a menininha que ela havia sido (silenciada ou exaltada) se conectava com suas questões atuais e realizações profissionais. só então é que traçamos um plano de ação e elencar as ferramentas necessárias pra alcançar o real objetivo (que, não raro, é diferente do que nos conectou). são semanas de muito bate papo, busca e aplicação de conceitos e fórmulas normalmente vendidas como prontas, mas que sendo entendidas e personalizadas, não são abandonadas nas primeiras dificuldades, e dali a poucos meses já pe possível sentir o copo cheio.

a marca pessoal nunca foi sobre carreira. é sobre valor próprio. é entender que não dá pra acordar e por a cara no mundo de qualquer jeito, é preciso atenção e intenção, rotinas cabíveis de auto-consciência, estratégia e adaptação à diferentes realidades e momentos.


olhe pra si agora. tire os olhos da tela e olhe-se, de verdade. sem julgamentos, só olhe. reconheça a menina descabelada, a adolescente rebelde, a jovem questionadora, a mulher que desafia. feche os olhos e imagine a senhora serena de si mesma que olha pra você e diz: seja.

(ah, e se quer entender como briblar mesmo os bad hair days da vida, me chama pra dois dedin de prosa!)

domingo, 11 de agosto de 2024

pais (o meu e o delas)

o colo do meu pai era severo, mas que não precisa de grandes explicações pra ser meu maior ninho. o colo do pai delas é cheio de gargalhadas e auto-entendimento, despretenciosamente.


com meu pai aprendi que princesas são diplomatas e amazonas, e não seres indefesos a espera de um resgate - afinal, meu castelo já era de vida e amor. com o pai delas eu aprendi que sou ogrinha e também absolutamente frágil, e juntos somos mais fortes pra criar princesas melhores do que eu fui. com meu pai eu criei gosto pela ordem das coisas - de gavetas a louça na pia - que me deram estrutura profissional e retidão nas relações. com o pai delas encontrei as delícias da preguicite no sofá, de se embrenhar numa trilha desconhecida, da criatividade caórdica que me deu liberdade de escrever e sonhar. com meu pai era fácil fazer a gargalhada ecoar, ter meu nome conhecido em qualquer roda, de não ter medo de me impor e expor. com o pai o silêncio é saboroso, ser humilde é uma lição diária, e que ceder às vezes é o único caminho para que possamos vencer juntos.
com meu pai, eu entendi que a força de um homem não invalida a tenacidade da sua companheira, e é no respeito mútuo que os filhos encontram o seu próprio caminho.
com o pai delas, en entendi que sua história de ensina, mas não determina seu caráter, e que a grandiosidade de está no amor pela vida que borbulha.
com esses dois, eu aprendi a ser quem eu sou. escolhi a ambos, em diferentes esferas. e fui amada, cada um a sua maneira, pra que eu pudesse dar às minhas filhas toda a dignidade, realeza e sabedoria que ambos me deram - como filha e esposa. AMO VOCÊS!

domingo, 21 de julho de 2024

O que café e branding tem em comum?

 Primeiro, vamos entender o que diferencia esse barrinho adoçado desse chá-fé: o “extra-forte” não significa sabor intenso, mas que pra mascarar impurezas e baixa qualidade dos grãos, passa por torra excessiva e o amargor pede muito açucar pra se tornar bebível.

Já o gourmet tem essa conotação de esnobe, mas saber que só tem café mesmo e com diferentes graus de torra abrem uma possibilidade enorme de extrações e aromas - e não amarga!

Eu vejo pessoas e marcas exatamente assim: aqui, tem aquele que nunca buscou entender seus fundamentos, que se contamina com tanta interferência externa, e pra entrar num padrão de mercado, acaba se queimando, e vai precisar de muitos artifícios pra se tornar agradável. De cá, uma identidade bem definida, que se adapta à demanda e cria possibilidades memoráveis.

Agora, cê sabe qual o preço deles na gôndola do supermercado? Acredite, não é tão diferente assim. A maior diferença: o primeiro vai sempre te dar azia…


Então, vai um BOM café aí?

pão é pão

 pão será sempre pão. dependendo do contexto histórico, uma receita diferente. conforme o país, um nome específico. dependendo da família, um jeito de ser consumido. mas pão será sempre pão.

e isso não é sobre pão.

responder à pergunta "qual é sua religião" me trazia uma série de questionamentos internos. e antes que atirem a primeira pedra ou comecem as pregações, isso não é uma discussão sobre credos.

eu nasci num contexto bem sincrético. batizada católica e sempre às voltas com grupos de oração, meu lugar favorito no mundo era a biblioteca cheia de símbolos e livros místicos da minha madrinha, e amava passar as férias ouvindo meu avô que era médium espírita. filmes de bruxaria e ocultismo eram documentários com licença poética e não mero entretenimento. minhas edições favoritas da Superinteresante eram as de civilizações antigas e seus cultos sobrenaturais. traduzi um livro de umbanda. na minha mesa tem cristais e um buda, e na entrada do escritório ficam o anjinho da guarda e um filtro dos sonhos. já recitei o terço mentalizando "ohm" ao invés de ave-maria. "Alice dentro do espelho" me mostrou a face de Deus no Tempo. eu plantei a lua como um pedido à Gaia para engravidar (e funcionou de primeira). minha feminismo luta por equidade por causa de uma PhD em comida. minhas melhores clientes são evangélicas. já convenci ateus de que o Algoritmo do Universo é que rege cada milagre das nossas vidas. 

mas minha espiritualidade nunca foi dúbia. desde o útero (ou talvez muito antes, dependendo de como você acredita), minha mãe me apresentou o Movimento Focolare. cresci vendo como Chiara Lubich traduziu sua fé dentro da sua expertise acadêmica e construiu discursos, estudos e palestras - além de amizades com grandes líderes das mais diversas denominações religiosas - que traziam o tema Unidade num diálogo construtivo e convergente. na minha cabeça, era mera questão de idioma que nos afastava por causa de interpretações proféticas. literalmente, era apenas o idioma que causava ruído. era absolutamente normal ouvir um africano explicar sobre como professava sua fé e vivia o divino, na mesma mesa que um inglês luterano ou um japonês xantoísta. as diferenças de crença eram meras diferenças de idioma, que tinham sua própria expressão e linguagem, representações e entendimentos. mas todo mundo falava da mesmíssima coisa: somos um com o todo.

daí pra eu me apaixonar por todo tema que envolva linguagens e como usá-la de forma a arrebatar seu público - de seitas religiosas a marcas capitalistas - foi natural. Os vocábulos e simbolismos podem variar - e é isso que vai determinar quem vai te seguir ou te repelir. meu trabalho como estrategista de comunicação é exatamente encontrar qual é o seu brilho, como o sagrado se manifesta em você e traduzir isso pra sua audiência.

então o que era sobre pão, agora você entendeu que não é sobre religião. mas sobra comunicação - que é, etimologicamente, a ação de transformar juntos.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Amo ser mãe, maaas...

 Sempre quis ser mãe. “Aos 30”, pensava eu ainda adolescente, porque sabia da responsabilidade em criar bons alicerces pessoais pra ser “uma boa mãe”. Uma inteção nutrida por 20 anos de muito estudo, convívio e realismo.


Tracei um plano de carreira em volta das limitações conhecidas e um “plano de fuga” pro que é tão individual (e sim, precisei acioná-lo algumas vezes pra não me perder completamente). Sabia que um emprego CLT tinha suas delícias de uma previsibilidade e certa estrutura, mas também via uma expectativa de presença e performance que eram imcompatíveis com a necessidade biológica, neurológica, emocional e social de crianças que tinham seus momentos mais sensíveis e sucetíveis terceirizados (e sim, quanto mais vunlerável a mulher, menor o poder de escolha sobre a qualidade desses cuidadores "secundários"). Empreender era - como uma perfeita lei newtoniana de Ação e Reação - de uma liberdade absurda, que exigiria um comprometimento sobrehumano - e, empiricamente, sabia que a resiliência, a inteligência emocional e muito jogo de cintura seriam indissociáveis com ou sem filhxs.


Hoje atuo transformando histórias em pilar estratégico de marcas pessoais, e organizar dados empresariais que fortalecam cultura e branding.

Ora ora, isso é intrínseco ao cuidado pra que nossas crianças se percebam protagonistas e saibam a riqueza dos seus saberes...


É mortificante lidar com mentoradas que chegam debilitadas emocionalmente, menosprezadas profissionalmente, limitadas afetivamente, porque a maternidade foi “vendida” como (mais) um papel socialmente compulsório que prometia a plenitude existencial, mas que nunca tiveram sequer a liberdade de sonhar - quiçá questionar - caminhos diferentes.

Sim, eu amo ser mãe (assim como amo as gêmeas, fruto e razão de ser dessa vocação) e honro todo o sacro-ofício porque foi uma escolha planejada. Mas não é pra qualquer um.

Minhas filhas precisarão conviver com pessoas que ainda vem de lares silenciados e que só se expressarão na dor, porque ainda existe um enorme tabu na não-maternidade.


É de uma responsabilidade enorme, e com tanta exigência - e negligência - do capitalismo, que requer uma sabedoria enorme enão vejo jamais como uma decisão de egoísmo. Mulheres que repudiam essa escolha devem estar igualmente feridas. Quando uma Larissa Pinta Preta for “desnecessária”, aí sim, teremos paz pra faar sobre novas gerações com mais liberdade e amor incondicional.


Obrigada por me lembrar porque eu amo meu maternar: eu pude escolher!

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

meu coração é de pedra...

mas se engana quem me vê como fria e dura.

sustento, conduzo, enobreço.

me lasco, esfarelo, despedaço.

por mim permeia a liquidez da vida. sou filtro de tanta coisa que as vezes nem se notam as águas que de mim brotam. brilho, mas não sou de enganar tolos. na verdade, meu valor não está em mim, mas pr'aquilo que sirvo.

só sou no outro. senão, apenas poeira. de estrelas.